A UFRB e o “leite derramado” – Luiz Nova

Luiz Nova, Professor do CAHL/UFRB

 

Está consumada politicamente a não indicação da primeira colocada na consulta à comunidade universitária da UFRB e na lista do CONSUNI, professora Georgina Gonçalves. Está consumada, porque as várias referências, lideranças da condução do processo de escolha para o qual a comunidade foi convidada, pronunciaram o seu encerramento.

Como disse desde o início deste processo, a dificuldade que me tocava, não se atinha ao nome do campo hegemônico. O campo se define por si só. No entanto, como afirmei, entendia que a comunidade estaria desarmada frente a “surpresas” de um governo que não surpreende. Ele é o que sempre anunciou ser, antes mesmo de sê-lo.

Mas passado não é para ficar lamentando, deve nos ensinar. O contexto do presente é uma determinação a ser entendida. Por isto, começo a falar da nomeação do terceiro da lista. E, neste sentido, é importante o que ocorreu e está registrado em vídeo. A professora Georgina Gonçalves visitou o professor Fábio Josué e, dignamente, se colocou à disposição para contribuir com o reitorado a ser conduzido pelo colega.

Sobre isso, emito aqui uma opinião pessoal, como integrante que sou da comunidade universitária da UFRB. Reafirmo, como disse antes, ser uma opinião baseada em uma compreensão política na qual a pessoa não pode ser, em geral, a referência absoluta para sua existência. Nestes casos, o indivíduo complementa, mas não define o contexto onde as coisas acontecem.

Começo então a partir do final do processo de Consulta à Comunidade/indicação do professor Fábio Josué. A pretensão é que a indicação de um membro da lista do CONSUNI, do mesmo campo político, não naturalize a agressão à democracia e autonomia universitária, já tão ameaçada.

A nomeação do professor Fábio Josué não muda o perfil político do reitorado da UFRB, como sabemos. O professor é parte do campo político que dirigiu a UFRB, até então. É um campo progressista, comprometido com a Universidade Pública. Mas não podemos esquecer que o processo de construção de nossa UNIVERSIDADE PÚBLICA não é um fato dado, um processo concluído. O governo atual revela isto sempre.

Assim, o vazio político com que a UFRB encerra esta participação não pode ser naturalizado. O diferencial do processo de escolha de Reitor está na participação democrática da comunidade, ainda que regulada de forma polêmica.

Se fomos chamados a escolher, por que o caminho frente a decisão do governo não teve a participação da comunidade? É mais que urgente que o campo progressista conclua sobre as limitações reais da democracia representativa. São limitações objetivas que transformam o conjunto em simples legitimação da autonomia das lideranças.

Desta forma perdem todos, perde a democracia, facilita o autoritarismo. Desde Hitler, os “bufões da cervejaria” chegam ao poder através do voto, também. A democracia representativa tem que ser entendida como parte da construção democrática, não como coadjuvante de legitimação institucional.

Mas não há que “chorar o leite derramado”. Nisto as referências deste processo estão corretas e o professor Fábio Josué, também, ao aceitar.

Lembremos que isto é realmente necessário dizer. A cultura que buscamos construir, antes da efetiva democracia universitária, prevê que a indicação da lista tríplice, pelos Conselhos Superiores havia de incorporar a garantia da dimensão ético-política da democracia.

O mais votado tinha a garantia de que os outros dois integrantes da lista, se nomeados, renunciariam. Assim, estava garantido que o mais votado fosse a única opção e nomeado.

Isto precisa ficar claro se apontamos para a luta democrática e o decorrente aprimoramento institucional. O próprio professor Fábio Josué precisa estar livre desta demanda, com a autorização da comunidade.

Devemos deixar claro que a pretensão é contribuir para o estabelecimento de um reitorado forte em seus compromissos com a UNIVERSIDADE PÚBLICA e a DEMOCRACIA como uma parte inalienável de sua construção.

Reafirmo aqui o que, individualmente, tem sido dito: O professor Fábio Josué também me representa. No entanto, eu não sou a comunidade.

Esta, em minha opinião, deve referendar a posição e dignidade da professora Georgina Gonçalves e, pelo menos no CAHL, recebê-la em ato político de reafirmação da democracia, inclusive com a presença do professor Fábio Josué.

Nós sabemos que reconhecer a correlação de forças existente é parte importante da luta democrática. Mas também sabemos ou devemos saber que, reconhecer uma correlação de forças desfavorável, não significa perda de identidade e/ou negação de compromissos democráticos de afirmação do espaço público.

UMA UFRB FORTE, UNIDA E DEMOCRÁTICA É UM DESAFIO MAIS QUE PRESENTE, INCONTORNÁVEL

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